domingo, 11 de agosto de 2013

Missionário americano que hospedou Julio Severo conta como foi a sua convivência com o blogueiro fundamentalista

Missionário americano que hospedou Julio Severo em sua residência quebra o silêncio e conta como foi a sua convivência com o blogueiro fundamentalista





Da Redação
Com Thiago Lima Barros


O personagem

Conhecido por sua militância agressiva e pertinaz, que versa sobre temas como educação em casa e guerra sem quartel a militantes de esquerda, aborto e homossexualismo, o blogueiro Julio Severo sempre fez questão de criar em torno de si, não se sabe por qual razão, uma aura de mistério: pouco se conhece sobre a sua história pessoal (ao contrário do que ocorre com muitos de seus apoiadores e ex-apoiadores, que têm uma vida pública ativa e fazem questão de aparecer em público para defender seus pontos de vista), e as poucas tentativas de revelar fatos de sua vida ao público evangélico, ao qual ele direciona sua pregação política, esbarraram em fontes jornalísticas pouco confiáveis.

Acredita-se que o quadro acima descrito se deva, pelo menos em parte, ao medo que uma parte da liderança evangélica tupiniquim devota ao “profeta da internet”, receosos do desgaste que um debate público com o renitente ativista possa causar em suas imagens públicas. Prova disso foram as diatribes lançadas por Severo contra diversos antigos apoiantes seus, como os clérigos-blogueiros Augustus Nicodemus Lopes, Solano Portela e Ciro Zibordi, bem como o ministro evangélico paraibano Euder Faber Guedes Ferreira, presidente da Visão Nacional para a Consciência Cristã (VINACC), que incluiu o ativista entre os palestrantes do Encontro para a Consciência Cristã, organizado por sua entidade. Todos eles, ante as verrinas que lhes foram direcionadas por Severo, preferiram o silêncio. Antes o apoiaram publicamente, quando mordidos pelo cão a quem deram guarida sofreram quietos.

No entanto, três personagens resolveram enfrentar a fera e falar sobre o assunto. Nesta matéria trazemos a público as informações colhidas com a primeira destas fontes: um missionário norte-americano que resolveu nos falar sobre o nosso personagem obscuro. E com propriedade: ele simplesmente hospedou Julio Severo em sua casa por três meses, a partir de setembro de 2006. Estamos falando de Bill Hamilton, pastor ligado à Presbyterian Evangelistic Fellowship, que, apesar de compartilhar vários pontos de vista com o blogueiro, é frontalmente contrário a alguns dos métodos pouco cristãos que Severo adota para defendê-los.

Californiano de Del Mar, 57 anos de idade e 22 de missões no Brasil, casado com a também missionária surinamesa Aïda, Hamilton coordena o Movimento 8-32, que se dedica à evangelização de universitários, principalmente nos campi da Universidade Federal Fluminense (UFF) em Niterói, onde reside com a esposa e duas filhas. Ele concedeu a entrevista abaixo por telefone, de sua residência, no último dia 15 de junho:

Como se deu a sua aproximação com Julio Severo?

Na realidade, a vinda de Julio Severo e sua família ao Rio se deu por minha culpa! Começamos a “conhecê-lo” através do seu blog durante o primeiro semestre de 2006. Entramos em contato com Severo através do seu e-mail no blog e, quando perguntamos sobre suas necessidades, ele alegou que estava sendo perseguido em sua cidade, no sul de Minas Gerais, por se recusar a vacinar os seus filhos, que à época eram muito pequenos (uma menina de 3 anos de idade e um bebê de 1 mês), com a desculpa de que a vacina, por ser distribuída pelo governo, era perigosa para as crianças. Porém, numa conversa posterior com o ex-cunhado dele (no caso, ex-marido de sua irmã), que morava do lado de sua casa e segurava a barra dele e da sua família no campo financeiro, descobrimos que ele exagerava a situação, por não haver perseguição acontecendo, de verdade. Porém, como essa conversa aconteceu depois da mudança de Severo e família para nossa casa, nós acreditamos, pelo menos inicialmente, na versão de que a perseguição era real e de que ele corria o risco de ver seus filhos tirados do lar por não vaciná-los.

Por quais os motivos o senhor acredita que ele lhe contatou?

Para ser sincero, o primeiro contato veio da gente, como eu falei antes. Mas como eu sou norte-americano, acredito que tenha sido por isso que ele aceitou o nosso convite. Ele planejava se refugiar nos EUA a qualquer custo, devido à afinidade dos EUA (naquela época, pelo menos) com a filosofia do home schooling (a educação dos filhos no lar pelos pais e/ou professores capacitados), que ele e a esposa defendiam. À época, me parece que o amigo virtual dele, Olavo de Carvalho, estava vendo se conseguia para ele matrícula em alguma high school, pois Severo não concluiu o ensino médio, como desculpa para entrar no país. Porém, o passo seguinte seria ele pedir asilo ao governo do meu país, por meio dos militantes do home schooling de lá. Quando ele estava defendendo o uso dessa mentira para conseguir asilo nos EUA, eu o admoestei, dizendo que a mentira não era a atitude de um verdadeiro cristão, e que Deus não ia honrar a postura dele dessa forma. Ele tentou se justificar respaldando sua prática em alguns personagens do Antigo Testamento, ao que eu imediatamente tentei esclarecer, lembrando que a Bíblia não “prescrevia” o uso da mentira nesses casos, mas simplesmente o “descrevia”. Severo, porém, não admitiu que a mentira, nesse caso, seria pecado. A partir daí, e com base em outras conversas que tive com ele, eu e a minha esposa começamos a questionar a sua conversão.

Quais foram os outros diálogos que lhe levaram a essa percepção?

Lembro-me de pelo menos dois. Quando ele estava defendendo o uso da mentira para poder entrar nos EUA, perguntei como se deu a conversão dele, e a resposta que ele me deu foi a de uma experiência bem mística, de “receber o Espírito Santo” como uma sensação de estar debaixo de uma cachoeira, mas nada a ver com o padrão bíblico de conversão. À medida que a conversa foi avançando, pude notar que, de modo geral, ele concorda intelectualmente, racionalmente, com as doutrinas protestantes, mas não percebi nele uma conversão calcada em arrependimento e fé, resultado da obra do Espírito Santo na regeneração. Lembro-me também que, algum tempo depois, foi noticiada a morte do general Augusto Pinochet, ex-ditador do Chile. Ele falou: “Que pena, não é? Morreu um homem que ajudou a combater o comunismo”. Retruquei, dizendo: “Mas ele matou muita gente no Chile que, concordando ou não com a sua cosmovisão política, tinha o direito de se defender no contexto do sistema judicial chileno”. A réplica foi: “Comunista merece morrer mesmo”! Encerrei a conversa dizendo: “Julio, esses comunistas eram seres humanos, cidadãos chilenos, que mereciam o mesmo tratamento que você e eu gostaríamos de receber se fossemos presos como cristãos e/ou como cidadãos alinhados com ideais políticos da direita, não é"?

Como foi a sua convivência cotidiana com Severo?

A gente os acolheu em casa por três meses, mas a situação se tornou insuportável. Os filhos dele ainda eram muito pequenos e demandavam um cuidado especial, e, além disso, eu e Aïda tínhamos que dar atenção às nossas filhas. Enquanto isso, eles foram ficando, sem perspectiva alguma de sair. Além do mais, a maneira preconceituosa, desamorosa e pouco cristã com que ele tratava de muitos assuntos nos incomodava e constrangia o tempo todo. Alegando perseguição, ele e a esposa tapavam todas as janelas com lençóis. Eles não queriam que, ou algum vizinho nosso descobrisse que eles eram seus “vizinhos”, ou então queriam esconder o que ele, Severo, ia fazendo na internet. Realmente não sei, mas juntando estas coisas com as nossas limitações financeiras, a falta de um prazo para sair da nossa casa e a nossa necessidade de deixar a casa por seis semanas para participar de um projeto missionário, decidimos pedir que eles arrumassem outra moradia com bastante antecedência.

Durante esse período, Severo sofreu alguma perseguição?

Aqui no Rio, nenhuma. Atribuímos isso ao fato deles estarem em outro estado sem ninguém da sua cidade saber exatamente onde estavam.

Como se deu a saída dele da moradia do senhor?

A psicóloga evangélica Rozângela Justino, que foi censurada pelos Conselhos Regional e Federal de Psicologia por ajudar homossexuais a sair do estilo de vida homossexual, conhecia o Julio pelo fato de os dois terem participado de algum congresso anterior. Sabendo disso, e sabendo que ela concordava com muitas colocações de Severo, pedimos a ajuda dela para achar outro lugar para essa família, pois a situação estava ficando insuportável, já que eles não procuravam outro local para se estabelecer e nós não queríamos deixá-los em nossa casa durante nossa viagem missionária. Rozângela se encontrou uma vez com eles na minha casa. Depois, eu sei que ela se encontrou com eles mais uma vez, levando consigo uma médica amiga, que tentou esclarecer que as vacinas não ofereciam perigo para a saúde das crianças.

Ela conseguiu um novo lar para eles?

Sim, ela conseguiu para eles uma casa num sítio no bairro de Marambaia, em Itaboraí. O sitio era de propriedade do falecido pastor Geremias Fontes, ex-governador do Estado do Rio, mas à época ainda vivo e liderando a Igreja Batista do Calvário, aqui no bairro do Fonseca, em Niterói. Nesse sítio, inclusive, funciona um espaço para a recuperação de dependentes químicos, a Comunidade S8. Na véspera da saída de nossa casa, Severo estava todo sorridente, pois, segundo dizia, Olavo de Carvalho estava conseguindo tudo o que ele queria. Diante disso, fiz questão de entrar em contato com o Consulado dos EUA aqui no Rio, alertando-os para que ficassem atentos na hora de conceder vistos a ele e à família. Não sei que medidas os funcionários de lá tomaram.

E o senhor manteve contato com Severo depois disso?

Perdemos contato com eles depois. Soube apenas que Severo caiu nas graças do Pastor Geremias e da família dele, e ficou hospedado no tal sítio em São Gonçalo por algum tempo, mas eles, alegadamente, conseguiram fugir do Brasil para outro país. Contudo, conhecendo a cabeça do Julio depois de tudo isso, acredito que ele, muito provavelmente, mentiu sobre essa saída para enganar e despistar os ativistas gays, que queriam (e ainda querem) confrontá-lo por suas declarações, e que talvez ele continue escondido aqui no Brasil, mesmo.


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DETALHE: O PASTOR QUE FAZ ESSAS DECLARAÇÕES NÃO É MENOS HOMOFÓBICO QUE JULIO SEVERO, APENAS MAIS COERENTE COM CERTAS CRENÇAS QUE ELE MESMO NUTRE (A VERDADE VOS LIBERTARÁ):

LEIA O RESTANTE DA MATÉRIA AQUI:

http://www.genizahvirtual.com/2013/08/missionario-americano-que-hospedou.html#ixzz2bfntChC1 


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